segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Olha aí, dom Waldir !!

(post do Alexandre)

Olha aí, dom Waldir!
A tal poesiazinha que lhe dediquei! Na intenção de decorar nosso blog, não apenas com fotos dos encontros, mas poesias também - publiquei a doida!
Grande abraço a todos que curtem poesia.
-ps: está com a grafia errada, pois é assim mesmo, com tendências ao palavreado falado. Bom espetáculo!



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Paiaço Mineirim


Eis o dia em que nasci:

mineirim... purim... Êta, Mulequim!

E foi assim. E assim fui indo...

A mãe, não conheci; o pai dava que dava em mim.

Foi tudo desse jeito, tudo meio assim:

‘cordava inda noite, ordenhar, dar de comer pros gado tudo,

Na boquinha dos bichim...

Dispois capinar, um tantinho pra comer

E o dia foi-se no cabo da foice.



Mar, num tinha mar...

Uai?! Era da roça, sô!

Só a idade pra me trazer o mar,

que era dia de feira,

dia de festa na ribeira,

cachaça, forrobodó e esteira.



Era só na função, sô!

Era mar de mardade...





Foi daí, daí sim, que conheci Lucimar,

Guiomar, Marluce, Marlene, Diadorim...

Muié macho que só!

Só que não era muié pra mim.

Diadorim era o mundo.

Por tudo era esse sertão, lonjura que não cabe em mim.

O tempo, de menino,

de um momento pro outro, não era mais não.

Era homi, naquele instante,

um momentim pra cuspir, pra acordar,

pra acreditar em mim:

Menino não era mais não!

Fugi.





Não tinha mãe, então, fugi...



Fugi com um circo de um palhaço doido.

Fiquei doído no chifre do touro,

Fiquei mangado com aquela graça...

Ganhei riso, ganhei choro, só ouro é que num vi.

O palhaço é o mar, o mar da mardade...

É encanto pras crianças, feitiço pras muiézada,

Que Deus, só de vingança, só de palhaçada

Tirou mãe, tirou remanso, tirou chance de dim-dim.

Palhaço é bicho ruim...



Palhaço e jagunço é tudo assim:

motivo de canção, de danação, de desafio,

Um mar de tristezas, desatinos,

Sem mãe pra aconchegar,

Sem eira pra cuidar, sem beira pra parar,

Tudo isso: circo, mãe e mar,

Me fez lembrar Diadorim.

Muié macho que só...



E foi de sangue esse pacto.

Por tudo esse mundão,

Eu sou ela, ela em mim,

Nessa lonjura que me acabo...

Sigo sem pouso e sozinho

Sem olhar pra trás, nem pro lado.

Sem mãe, sem circo,

mas sem ver o mar é que não paro:

Eu, Diadorim somo é do tipo macho!



E de cálculo com o diabo:

Já não era mãe, nem mar, nem circo,

E era difícil ver o céu tão limpo

O bolso sempre vazio.

Foi quebranto que me butaro!

O chuveirinho de prata, a lágrima do palhaço,

Foram ficando para trás, nas paragens do passado.

E ganhei a praça desse jeito assim:

Não é que o sinistro espreita?

De torto já num endireita,

Olhei no horizonte e vi:

Era tanto dos edifícios.

Onde moram os tipos ricos,

Que freqüentam os espetáculos...

– Foi pra tumar o que é meu que eu fugi!





Na febre do ouro eu fui:

Do alheio vendi bode,

Do amigo tumei dinheiro...

Se perguntou – como é que pode?

Isso também eu não ouvi.

Como já disse: antes – fugi.

De boléia, de carro, de ônibus e inté de carroça.

Num fiquei pra ver que fim, maldito fim,

Afinal teve aquela roça.



Meu fim, único fim, era ver o mar.

Mergulhar na cidade grande, nas paragens do litoral.

Êta, cidade-mar, sô!

Tão grande, tão grande...

Tão cheia de luzes, de edifícios, de postes

E tanta gente, gente pobre,

Que como pode também não tem fim.

E assim descobri que gente rica tem um lema:

Manda quem pode, obedece quem tem juízo

E quem não tem nada, nem isso,

Na vida só arruma problema.

Vive sempre escondido, catado pela polícia,

Numa vida de rapina,

Esquema que não cabe em mim.



Nunca fui de preguiça.

Fui pedreiro, fui ligeiro, fui esperto que não tem fim.

Dinheiro fiz e também perdi...

Isso, afinal, só pode ser sina...



Esse foi o mar, mar de pedras que escolhi,

Rua sem saída, sem sequer uma esquina,

Praga maldita em que me meti.



Um dia o circo passou...

E lembrando do menino,

Menino danado que um dia nasci,

Adentrei novamente o picadeiro,

Tão certo de que dinheiro não havia ali.

Esperto de que o circo era tudo...

Era mãe e era pai, pra quem nem tudo é dinheiro.

Era o teto, o limite, os aplausos prum mulequim mineiro.

Prum roceiro na cidade grande, tão grande,

Tão grande que não tem mais fim.

Meu mar era circo...

Era eu palhaço, no riso; no trapézio Jacira; na magia Soraia...

Era eu, Soraia e Jacira: palhaço das crianças, amante das artistas,

Tudo isso só pra mim.

O sorriso dos meninos,

Sempre guardado no peito.

Amamentado por Jacira, por Soraia...

Era tudo tão sertão, tão sertão e tão praia.

Era a vida...



A vida longe da morte,

Era a sorte de circo e saia,

A vida de um mineirim,

Palhaço, sorriso largo,

De colarinho um bocado folgado,

‘inda que um tanto chinfrim...



Êta marzão, sô!

Era mãe, mar e circo.

Tudo aquilo que eu quis pra mim!

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.


Ainda sobre o Dia das Crianças...



Quando tivemos nosso Terceiro encontro lancei uma nota sobre o São Cosme e Damião... que seria uma data mais democrática que o Dia das Crianças, quando só algumas ganham presentes. Maior coincidência, ouvi na rádio Band News o jornalista Boechat comentar sobre um texto da senhora Yvonne Bezerra de Mello. Senhora bonitona, dos mais finos tratos, não se perdeu não: resolveu ajudar as crianças, dessas que vivem pelas ruas. Apareceu muito na TV na época dos meninos da Candelária, antes da chacina. Hoje ela coordena o projeto Uerê, que ajuda muitas famílias e crianças. Pois saiu, em 7 de outubro de 2007, no caderno Opinião de O Globo uma matéria de sua autoria sobre o tema: Dia das crianças, me poupa!



Fui autorizado por ela para fazer este breve post. Se eu falei mal sobre o consumismo nesta data, vejam como ela termina seu enredo:



"Uma reflexão no porquê perdemos o nosso sentido de justiça, de ética, de moral. É triste constatar que aqui morrem mais jovens e crianças assassinadas em casa, no transito, nas ruas, mais do que nos paises em guerra. Todos os dias deveriam ser dia da criança mas já que existe um dia específico deveria ser um dia de reflexão para todas as famílias brasileiras e não só um dia onde o brinquedo é a parte mais importante."


Yvonne Bezerra de Mello -
Coord. do projeto Uere

- quer ajudar também? vá lá visitar!



www.projetouere.org.br/

fim

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